O lema do próximo Congresso Nacional da Liga de Leigos Luteranos do Brasil (LLLB) é: "Leigos e pastores juntos servindo ao Senhor". É magnifico! É formidável! Que bom que a
igreja se põe a pensar sobre este tema.
Como estive à frente do processo de Chamado Pastoral de minha Congregação, que por sinal, não foi fácil, mas me permitiu ter uma experiência muito importante e gratificante dentro da lgreja, sei muitobem da importância dessa parceria.
O fato de ter tido um contato mais próximo com os pastores indicados, ouvindo-os e lendo as respostas dos questionários, levou-me a uma indagação: O que estamos fazendo com nossos pastores?
A pergunta parece estranha, eu sei, mas reflita: Você sabia, por exemplo, que os pastores sofrem de solidão? Como assim? Se eles estão casados, têm filhos, têm a congregação!? Não é deste tipo de solidão que falo, aquela do eremita. A solidão que falo é a do Ministério Pastoral, do trabalho como pastor de uma congregação.
Ao conversar com os pastores durante o processo de Chamado percebi claramente que a dificuldade dos pastores é basicamente a mesma: a falta de interesse de grande parte de suas ovelhas, dos membros, pela igreja.
Mesmo na congregação e dentro dela, a maioria dos pastores está invariavelmente sozinha. Não há com quem falar, com quem expor abertamente seus receios e seus planos. Por exemplo: quando o pastor tem uma ideia para alguma tarefa, todos dizem: "Que legal, pastor!" Todos dizem: "Vamos fazer, pastor!" Mas quando o pastor olha para trás, ele está sozinho.
Precisamos mudar esse cenário, e esse despertar da LLLB é fundamental. Nossos
pastores precisam de amigos dentro da congregação. Precisam que alguém se importe em saber se ele está atendendo bem a sua família, de como está sua saúde. Se está tendo tempo adequado para os estudos, para preparar o culto, se ele dorme bem, etc. Caso contrário, por mais que digamos "Este é o meu pastor", ele não passará de um estranho que vemos apenas aos domingos quando vamos ao culto.
Precisamos nos lembrar que cada membro é um sacerdote perante Deus, pois exerce o Ministério Sacerdotal. Isso significa mais do que cada cristão ter acesso direto a Deus. Significa dizer que cada cristão deve oferecer a si mesmo, suas posses, seu tempo e seus talentos ao Senhor, na obra de amor aos seus irmãos. Todos eles, e inclusive ao pastor.
Portanto, cuidar do templo, trocar paramentos, comprar hóstias, comprar vinho, preencher livros, preencher cadastrados, incentivar membros a comprarem livros cristãos, a estudarem literatura cristā, a participarem de Congressos, a assinarem o Mensageiro Luterano, a levarem os filhos às escolas biblicas, realizarem estudo bíblico do PEM, fazerem escalas de recepcionistas, de auxiliares,
organizarem eventos missionários, tudo isso é tarefa dos membros da congregação.
É tarefa de leigos e de servas, porque eles têm mais e maiores oportunidades do que os pastores para desempenhar a obra do Senhor no mundo e dar testemunho da verdade'. Porém a verdade é que muitas vezes nos omitimos nestas tarefas e jogamos toda a carga do trabalho para o pastor, esquecendo que o pastor é quem auxilia os membros a fazerem o trabalho que é deles, e não o contrário, uma vez que, aos pastores, que exercem o Ministério Pastoral, cabe a tarefa de preparar leigos e servas para o exercício de seu Ministério Sacerdotal (1Pe 2.5-9). Se não fizermos assim, estaremos provocando em nossos pastores um sentimento ruim de incompetência e de culpa, deixando-os sozinhos.
Outro ingrediente que pesa no Ministério Pastoral é o fato de alguns pastores estarem em uma congregação distante, dificultando-lhes o contato com outros colegas pastores ou com o conselheiro distrital.
Você consegue visualizar este cenário solitário?
Pois bem, esta solidāo representada pela falta de amizade e pelo excesso de tarefas gera uma consequência grave para o ser humano que esta na função de pastor de uma congregação. A dificuldade financeira da congregação; a ausência de participação dos membros nas tarefas da igreja; a falta de contato com colegas pastores; a falta de reconhecimento pelo trabalho realizado, são fatores de uma equação matemática em que o resultado pode ser a depressão ou outras doenças.
Doenças psicológicas e neurológicas podem estar sendo muito frequentes nos pastores sem sabermos, pois não existe nenhum acompanhamento sobre esta situação.
Os números oficiais da IELB refletem um cenário preocupante.
Entre 2005 e 2009, ingressaram na IELB 122 novos pastores. No mesmo período, 43 pediram licenciamento e 31 saíram do Ministério. Considerando apenas os que saíram, a diferença entre os que entraram e saíram foi de 25%.
Nos quatro anos seguintes, entre 2010 e 2014, ingressaram na IELB 80 novos pastores. No mesmo periodo, 35 pediram licenciamento e 60 saíram do Ministério. Nesse período, a diferença entre os que entraram sairam subiu para 75%.
Por fim, nos últimos trës anos, entre 2015 e 2017, ingressaram na IELB 52 novos pastores, e, no mesmo período, 20 pediram licenciamento e 45 saíram do Ministério. Nesse período a diferença entre os que entraram e saíram foi ainda maior, chegando a 86%.
Infelizmente, a IELB não possui registro de quantos pastores saem ou pedem licença por questões de saúde.
Nesse ponto, a IELB também deveria ter um melhor acompanhamento, não se limitando a interferir no Ministério Pastoral apenas em casos de violação da ética. É necessário ter um acompanhamento e registro centralizado da saúde dos pastores, principalmente da saúde mental, encaminhando-os a tratamento conveniado quando necessário ou quando a Congregação não tiver condições de fazer isso.
O que estamos fazendo com nossos pastores?
Na 62º Convenção Nacional foi dado um enfoque especial para a atenção à família. Foi
dito que os membros não podem dedicar-se unicamente e exaustivamente à igreja. A
família é mais importante, está em primeiro lugar. Sob esse prisma, foi questionado se as
congregações estão observando seus pastores, dando-lhes tempo para que possam dar atenção e cuidados aos seus filhos, à sua esposa.
E o que podemos fazer?
A partir do Evangelho anunciado e vivido pelo nosso bom pastor Jesus, somos motivados
a ir ao encontro do nosso próximo. E o nosso pastor é um dos nossos próximos que precisa
da nossa atenção, do nosso acolhimento, da nossa ajuda e apoio. Devemos realmente nos
importar com ele.
Observar e avaliar o trabalho dele, parabenizando-o pelas coisas boas e apontando com amor aquilo que não ficou bom. O reconhecimento, a valorização e mesmo a crítica construtiva, são extremamente necessárias para o ser humano, também para o pastor.
Verifique com o pastor se ele estå atendendo as necessidades da família durante a
semana, como: levar o filho ao médico, participar de reunião de pais na escola, consertar as tomadas dentro de casa; ele está tendo tempo para fazer estas coisas? Como está o INSS de seu pastor? Como ele vai sustentar a família caso fique hospitalizado?
Divida com seu pastor as tarefas do templo. Assuma a sua parte no trabalho da igreja. Assuma já o seu sacerdócio! Retire do pastor as tarefas meramente administrativas. Não tenha medo de dirigir um Estudo Bíblico, os leigos e pastores devem servir ao Senhor de forma conjunta. Dê ideias para o Programa de Natal, para o Jantar de Advento, para as festividades de Páscoa; você não tem ideia de como o pastor gosta e quer isso.
Por fim, seja amigo do seu pastor. Converse com ele, mostre interesse por ele, por sua família, por seu trabalho. E lembre-se: mais do que ser o seu pastor, ele é seu irmão na caminhada da fé, e a nova vida que Deus lhe deu em Cristo, a partir do Batismo, nāo pode e não deve ser vivida isoladamente, egoisticamente, mas ser "consumida" servindo em alegria a Deus e ao próximo, segundo o chamado e os dons que cada um de nós recebeu.
Fabio Leandro Rods Ferreira