segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O que fazemos com nossos pastores?

O lema do próximo Congresso Nacional da Liga de Leigos Luteranos do Brasil (LLLB) é: "Leigos e pastores juntos servindo ao Senhor". É magnifico! É formidável! Que bom que a
igreja se põe a pensar sobre este tema.

Como estive à frente do processo de Chamado Pastoral de minha Congregação, que por sinal, não foi fácil, mas me permitiu ter uma experiência muito importante e gratificante dentro da lgreja, sei muitobem da importância dessa parceria.

O fato de ter tido um contato mais próximo com os pastores indicados, ouvindo-os e lendo as respostas dos questionários, levou-me a uma indagação: O que estamos fazendo com nossos pastores?

A pergunta parece estranha, eu sei, mas reflita: Você sabia, por exemplo, que os pastores sofrem de solidão? Como assim? Se eles estão casados, têm filhos, têm a congregação!? Não é deste tipo de solidão que falo, aquela do eremita. A solidão que falo é a do Ministério Pastoral, do trabalho como pastor de uma congregação.

Ao conversar com os pastores durante o processo de Chamado percebi claramente que a dificuldade dos pastores é basicamente a mesma: a falta de interesse de grande parte de suas ovelhas, dos membros, pela igreja.

Mesmo na congregação e dentro dela, a maioria dos pastores está invariavelmente sozinha. Não há com quem falar, com quem expor abertamente seus receios e seus planos. Por exemplo: quando o pastor tem uma ideia para alguma tarefa, todos dizem: "Que legal, pastor!" Todos dizem: "Vamos fazer, pastor!" Mas quando o pastor olha para trás, ele está sozinho.

Precisamos mudar esse cenário, e esse despertar da LLLB é fundamental. Nossos
pastores precisam de amigos dentro da congregação. Precisam que alguém se importe em saber se ele está atendendo bem a sua família, de como está sua saúde. Se está tendo tempo adequado para os estudos, para preparar o culto, se ele dorme bem, etc. Caso contrário, por mais que digamos "Este é o meu pastor", ele não passará de um estranho que vemos apenas aos domingos quando vamos ao culto.

Precisamos nos lembrar que cada membro é um sacerdote perante Deus, pois exerce o Ministério Sacerdotal. Isso significa mais do que cada cristão ter acesso direto a Deus. Significa dizer que cada cristão deve oferecer a si mesmo, suas posses, seu tempo e seus talentos ao Senhor, na obra de amor aos seus irmãos. Todos eles, e inclusive ao pastor.

Portanto, cuidar do templo, trocar paramentos, comprar hóstias, comprar vinho, preencher livros, preencher cadastrados, incentivar membros a comprarem livros cristãos, a estudarem literatura cristā, a participarem de Congressos, a assinarem o Mensageiro Luterano, a levarem os filhos às escolas biblicas, realizarem estudo bíblico do PEM, fazerem escalas de recepcionistas, de auxiliares,
organizarem eventos missionários, tudo isso é tarefa dos membros da congregação.

É tarefa de leigos e de servas, porque eles têm mais e maiores oportunidades do que os pastores para desempenhar a obra do Senhor no mundo e dar testemunho da verdade'. Porém a verdade é que muitas vezes nos omitimos nestas tarefas e jogamos toda a carga do trabalho para o pastor, esquecendo que o pastor é quem auxilia os membros a fazerem o trabalho que é deles, e não o contrário, uma vez que, aos pastores, que exercem o Ministério Pastoral, cabe a tarefa de preparar leigos e servas para o exercício de seu Ministério Sacerdotal (1Pe 2.5-9). Se não fizermos assim, estaremos provocando em nossos pastores um sentimento ruim de incompetência e de culpa, deixando-os sozinhos.

Outro ingrediente que pesa no Ministério Pastoral é o fato de alguns pastores estarem em uma congregação distante, dificultando-lhes o contato com outros colegas pastores ou com o conselheiro distrital.

Você consegue visualizar este cenário solitário?

Pois bem, esta solidāo representada pela falta de amizade e pelo excesso de tarefas gera uma consequência grave para o ser humano que esta na função de pastor de uma congregação. A dificuldade financeira da congregação; a ausência de participação dos membros nas tarefas da igreja; a falta de contato com colegas pastores; a falta de reconhecimento pelo trabalho realizado, são fatores de uma equação matemática em que o resultado pode ser a depressão ou outras doenças. 

Doenças psicológicas e neurológicas podem estar sendo muito frequentes nos pastores sem sabermos, pois não existe nenhum acompanhamento sobre esta situação.

Os números oficiais da IELB refletem um cenário preocupante.

Entre 2005 e 2009, ingressaram na IELB 122 novos pastores. No mesmo período, 43 pediram licenciamento e 31 saíram do Ministério. Considerando apenas os que saíram, a diferença entre os que entraram e saíram foi de 25%.

Nos quatro anos seguintes, entre 2010 e 2014, ingressaram na IELB 80 novos pastores. No mesmo periodo, 35 pediram licenciamento e 60 saíram do Ministério. Nesse período, a diferença entre os que entraram sairam subiu para 75%.

Por fim, nos últimos trës anos, entre 2015 e 2017, ingressaram na IELB 52 novos pastores, e, no mesmo período, 20 pediram licenciamento e 45 saíram do Ministério. Nesse período a diferença entre os que entraram e saíram foi ainda maior, chegando a 86%.

Infelizmente, a IELB não possui registro de quantos pastores saem ou pedem licença por questões de saúde.

Nesse ponto, a IELB também deveria ter um melhor acompanhamento, não se limitando a interferir no Ministério Pastoral apenas em casos de violação da ética. É necessário ter um acompanhamento e registro centralizado da saúde dos pastores, principalmente da saúde mental, encaminhando-os a tratamento conveniado quando necessário ou quando a Congregação não tiver condições de fazer isso.

O que estamos fazendo com nossos pastores?

Na 62º Convenção Nacional foi dado um enfoque especial para a atenção à família. Foi
dito que os membros não podem dedicar-se unicamente e exaustivamente à igreja. A
família é mais importante, está em primeiro lugar. Sob esse prisma, foi questionado se as
congregações estão observando seus pastores, dando-lhes tempo para que possam dar atenção e cuidados aos seus filhos, à sua esposa.

E o que podemos fazer?

A partir do Evangelho anunciado e vivido pelo nosso bom pastor Jesus, somos motivados
a ir ao encontro do nosso próximo. E o nosso pastor é um dos nossos próximos que precisa
da nossa atenção, do nosso acolhimento, da nossa ajuda e apoio. Devemos realmente nos
importar com ele. 

Observar e avaliar o trabalho dele, parabenizando-o pelas coisas boas e apontando com amor aquilo que não ficou bom. O reconhecimento, a valorização e mesmo a crítica construtiva, são extremamente necessárias para o ser humano, também para o pastor.
 
Verifique com o pastor se ele estå atendendo as necessidades da família durante a
semana, como: levar o filho ao médico, participar de reunião de pais na escola, consertar as tomadas dentro de casa; ele está tendo tempo para fazer estas coisas? Como está o INSS de seu pastor? Como ele vai sustentar a família caso fique hospitalizado?

Divida com seu pastor as tarefas do templo. Assuma a sua parte no trabalho da igreja. Assuma já o seu sacerdócio! Retire do pastor as tarefas meramente administrativas. Não tenha medo de dirigir um Estudo Bíblico, os leigos e pastores devem servir ao Senhor de forma conjunta. Dê ideias para o Programa de Natal, para o Jantar de Advento, para as festividades de Páscoa; você não tem ideia de como o pastor gosta e quer isso.

Por fim, seja amigo do seu pastor. Converse com ele, mostre interesse por ele, por sua família, por seu trabalho. E lembre-se: mais do que ser o seu pastor, ele é seu irmão na caminhada da fé, e a nova vida que Deus lhe deu em Cristo, a partir do Batismo, nāo pode e não deve ser vivida isoladamente, egoisticamente, mas ser "consumida" servindo em alegria a Deus e ao próximo, segundo o chamado e os dons que cada um de nós recebeu.

Fabio Leandro Rods Ferreira

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Celebração da Santa Ceia

O objetivo aqui não é entrar nos detalhes da teologia da santa ceia, só será possível mencionar alguns dos aspectos dela.

A santa ceia é uma refeição festiva, de ação de graças; é o banquete que Cristo nos oferece enquanto aguardamos sua vinda em glória; é comunhão com Cristo e com os membros de seu corpo; é um meio todo especial que Cristo tem de aplicar a nós a justiça que ele conseguiu na morte e ressurreição.

A Ceia do Senhor foi instituída pelo Filho de Deus, portanto, a sua instituição é divina e permanente.

Nós, luteranos, cremos que a pessoa de Cristo está presente na Ceia do Senhor. Sob o Pão e o Vinho recebemos nada menos que o Corpo e o Sangue, dado e derramado por nós, pecadores. A isso chamamos de União Sacramental. A celebração da ceia acontece em três partes:

a) Prefácio: é talvez a parte litúrgica mais antiga de nosso culto. Expressa reverência, adoração, alegria e ação de graças. As palavras "Levantai os vossos corações", que soam um pouco estranhas, são um convite a dirigirmos nossos pensamentos a Cristo, cujo corpo
e sangue iremos receber. O "levantemo-los ao Senhor" é o "sim" da congregação. O "demos graças ao Senhor" faz lembrar a ação de Jesus na noite em que foi traído
(Mt 26.27). Outra forma de dizer isto são as palavras "com os anjos e arcanjos com toda a companhia celeste louvamos e magnificamos o teu glorioso nome, exaltando-te sempre...". Estas palavras deixam claro que, na ceia, nos unimos ao culto eterno dos anjos e da igreja
triunfante no céu.

b) Consagração e Administração: as palavras da instituição são ligadas aos elementos externos do sacramento, ou seja, ao pão e ao vinho. Constituem uma permanente memória da noite em que Cristo foi traído.

c) Pós-Comunhão, "Nunc Dimittis": são as palavras latinas que iniciam o cântico de Simeão (Lc 2.29-32). "Nunc dimittis" quer dizer "agora despedes". Não há palavras mais apropriadas para aqueles que, a exemplo de Simeão, viram a salvação do Senhor. "Ação de Graças: erguer a voz em mais um agradecimento. É a única resposta possível, é tudo que se pode fazer depois de ter recebido tão grande dom da salvação.

Sendo assim o momento de celebrar a Ceia do Senhor dentro do culto sempre é muito especial e único em nossa vida. Que possamos sempre ser acolhido no convite de Jesus: "Vinde a mim todos que estão cansados de carregar pesadas cargas e eu lhes darei descanso". Que assim seja, amém.

Pastor Felipe Euzebio