quinta-feira, 22 de março de 2012

A minha lista para 2012

No filme “Antes de partir”, lançado em 2007, um mecânico interpretado por Morgan Freeman é submetido a um tratamento experimental para combater o câncer. Seu companheiro de quarto hospitalar é o próprio dono do hospital, um homem muito rico, interpretado por Jack Nicholson.

De forma dramática e cômica, o enredo da história revela um mundo de emoções que contagiam e fazem refletir sobre escolhas na vida. Ao receberem a notícia de que ambos têm pouco tempo de vida, elaboram uma lista de coisas que gostariam de fazer antes de morrer e fogem do hospital. Item por item, a lista é seguida à custa do ricaço: pulam de paraquedas, pilotam carros de corrida, fazem viagens pelo mundo. Em certo momento, eles estão no Egito apreciando o pôr-do-sol próximo às Pirâmides. Então, um deles comenta que no antigo Egito havia a crença de que, quando uma pessoa morria e chegava à presença de Deus, lhe era perguntado: - Você encontrou alegria em sua vida? Você proporcionou alegria para os outros? Dependendo da resposta, a pessoa era admitida no paraíso.

A fé cristã nos mostra o jeito certo para ser feliz, proporcionar felicidade aos outros e entrar no paraíso. Mas, penso que este filme tem um recado especial para nós, pessoas que confessam com Paulo que “viver é Cristo e morrer é lucro” e, por isso, com o mesmo sentimento ambíguo: “se eu continuar vivendo, poderei ainda fazer algum trabalho útil. Então não sei o que escolher. Estou cercado pelos dois lados” (Fp 1.22-23). Digo isso, porque só elaboramos uma lista de prioridades quando temos que encarar a morte eminente, ou quando somos obrigados a deixar para trás coisas importantes que não valorizamos. Por exemplo, após passar os 365 dias de 2011, descobrir que perdemos muitas coisas por simples desleixo, teimosia e ignorância.

Quando Paulo escreve esta carta aos filipenses, ele está na cadeia e percebe o advento da sua morte. Nesta situação, ele pega a sua lista e desabafa: “O meu grande desejo e a minha esperança são de nunca falhar no meu dever” (1.20). Este também deveria ser o nosso anseio: nunca falhar no dever. Algo parecido com o doloroso drama de Flávio, membro da minha congregação, que visitei quando escrevia estas linhas. Aos 50 anos, tem um tumor na cabeça, perdeu os movimentos do corpo e respira com a ajuda de aparelhos. Antes de receber a Santa Ceia, lembrou-se de seu filho de nove anos e o desejo de ir ao culto. Voltei para casa com o coração partido, pensando nos meus filhos, no privilégio de poder ir aos cultos e em todas as bênçãos que desfruto.

No filme, depois de muitas viagens pelo mundo, a doença do mecânico se agrava e eles precisam voltar para casa. E é em casa que eles descobrem que o melhor da vida é “o agora”, na companhia de pessoas que tanto amamos. É um tanto perigoso viver “o agora”, pois pode gerar irresponsabilidades. Mas é a pura verdade que, quando passamos boa parte da vida querendo viver o amanhã e desprezando as oportunidades do presente, um dia vamos olhar para trás e nos arrepender por coisas que deixamos de fazer. Creio que esse sentimento de contrição é comum, pois todos aprendem errando.

No entanto, têm coisas que podemos aprender antes de errar. Uma maneira é olhar a vida dos outros, pelos seus bons e maus exemplos. Igual a história do jogador Sócrates que desperdiçou seu talento, sua inteligência e a própria vida com o álcool.

Ninguém sabe quanto tempo de vida ainda lhe resta, mas todos têm noção de que ela é finita e passa correndo. Temos uma lista? Queremos conhecer lugares, pular de paraquedas? Cada um projeta o que está no coração e no alcance de realizar. No entanto, o que faríamos se soubéssemos que temos pouco tempo de vida?

Não precisamos de uma notícia assim para rabiscar uma lista. Foi Jesus quem disse: “O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira? Pois não há nada que poderá pagar para ter de volta esta vida” (Mc 8.36-37). Esta vida nós já temos, e a morte não pode tirá-la de nós. Cada minuto, cada hora, cada dia de 2012 são uma nova oportunidade para cumprir o nosso dever, o dever de amar aqueles que estão próximo, ao nosso lado...

Pastor Marcos Schmidt

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