Talvez você já tenha
visto a seguinte cesa: alguém reclamando que os brasileiros importam a cultura
dos americanos. Por exemplo, as escolas agora comemoram o “dia das bruxas”, e
as igrejas, o “dia de ação de graças”.
De fato, o Brasil tem
muita cultura original desvalorizada, muitas de origem indígena, e realmente
parece haver um esforço para introduzir culturas alheias que não fazem nenhum
sentido para a população brasileira, como é o caso do “dia das bruxas”. Já o
Dia de Ação de Graças, em que pesa ser originário dos Estados Unidos, não é
algo tão sem sentido assim, muito pelo contrário: ao pesquisar sobre a origem
do Dia de Ação de Graças, percebemos que a cultura americana dá muito mais
valor ao sentido religioso do dia do que as culturas latinas.
O Dia de Ação de
Graças é festejado nos EUA desde o século 16, mas foi legalmente instituído
como data oficial por George Washington em 1789.
Há duas correntes
históricas sobre a origem do Dia de Ação de Graças. Uma define que a sua origem
se deve ao sentimento dos americanos em relação aos ingleses após a
independência dos EUA em 1776, como uma espécie de filtro contra sentimentos de
revolta. Terminada a guerra, os recentes líderes sabiam que necessitariam
manter relações comerciais com a Inglaterra; logo, permitir que se
desenvolvesse um sentimento de rancor seria prejudicial aos negócios.
Por isso, os
primeiros governantes incentivaram nos novos americanos a idéia de que nada
deveria ser mais forte do que a gratidão de viver em um país rico e generoso,
de modo que deveriam das graças a Deus. Nesse período, todos deveriam ser
tratados com respeito, generosidade, amor e gratidão. Por coincidência, era
justamente neste período escolhido que se realizavam as transações comerciais.
Como resultado, essa
mistura de amor à pátria nova e de que Deus está ao lado dos americanos fez com
que esse sentimento se tornasse tão forte de modo a se confundir religião com
civismo. Na própria instituição do Dia de Ação de Graças, George Washington
assim escreveu: “É dever de todas as nações reconhecerem a providência de Deus
Todo-Poderoso, obedecerem à sua vontade, serem gratas aos seus benefícios e
humildemente implorarem sua proteção e seu favor”.
Já a segunda corrente
provém de uma origem mais antiga. Para esses historiadores, o festejo teria
começado em 1621 quando pela primeira vez na região onde hoje é Massachusetts
um grupo de imigrante religiosos festejou por três dias uma farta colheita após
terem passado muito trabalho, terem sobrevivido ao inverno, e a uma viagem de
navio em que muitos morreram.
Esses festejos
continuaram ano após ano por motivos diversos: colheita farta; fim da seca; fim
da Guerra Civil, etc. Por fim, tornou-se feriado nacional em 1941 celebrado
sempre na última quinta-feira do mês de novembro.
No Brasil, país que
possui uma característica forte de “copiar” legislação estrangeira, também se
copiou a lei americana, criando em 17 de agosto de 1949 a Lei 781 que instituiu
o Dia Nacional de Ação de Graças. Trata-se de uma pequena lei, de apenas um
artigo, que define, como dia comemorativo no Brasil, a última quinta-feira do
mês de novembro, dedicado ao Dia de Ação de Graças. Posteriormente, em 1966
essa lei foi alterada para definir a quarta quinta-feira do mês de novembro, ao
invés da última, para coincidir com as datas internacionais.
Como disse no início,
existe a lei, mas nem todos sabem o real sentimento que expressa a data em
questão.
O Decreto 57.298/65
regula a obrigação de nossos governantes com relação ao Dia Nacional de Ação de
Graças, determinando: que o presidente da República realize um pronunciamento
ao povo na véspera (art. 2º do Decreto); que em Brasília seja realizada uma
grande festividade (art. 3º); que nos quartéis os comandantes militares
providenciem juntamente com os capelães cultos e celebrações religiosas (art.
5º); e por fim, que nas escolas em todos os graus sejam realizados atos
elucidativos do Dia Nacional de Ação de Graças (art. 6º).
Eu nasci em 1972, 23
anos depois da lei. Estudei em escola católica até a 5ª série do primário e em
escola pública até o fim do segundo grau. Fui militar do Exército por dois
anos. Meu curso superior foi em Faculdade Adventista. E nunca ouvi falar no tal
Dia Nacional de Ação de Graças.
Que fizemos?
Tornamo-nos um povo
ingrato. Nossa nação é teimosa como algumas nações descritas na Bíblia. Nem o
povo, nem os governantes aprendem.
George Washington
estava corretíssimo: “É dever de todas as nações reconhecerem a providência de
Deus Todo-Poderoso”. Todavia, em uma nação em que se arrancam crucifixos de
tribunais em nome da laicidade, sem saber que aqueles crucifixos foram ali
colocados não por motivos religiosos, mas científicos, é mais fácil que o
governo revogue a lei do que exigir que ele a cumpra.
O Dia de Ação de
Graças é sim típico da cultura americana, mas, para nós, e para todos os povos,
faz ou deveria fazer muito sentido. E já que o governo não cumpre a lei,
devemos nós, escolas, igrejas, quartéis, cumpri-la, bem como incentivar e
esclarecer o seu significado; afinal, a lei ainda é válida e não foi revogada.
Mais do que isso, o amor de Deus por nós, suas bênçãos e sua Salvação através
de Jesus Cristo, ainda são válidos, não foram revogados, estão vivos em nós e
são providenciados pelo Senhor todos os dias para todos, cristãos e não
cristãos, dando: terra fértil; ausência de guerras; as estações do ano;
cientistas que encontram cura para doenças; corpo e alma, razão e todos os
sentidos e ainda os conserva; vestes, alimentos; moradia; família; emprego;
patrimônio; proteção de perigos conforme sua vontade; tudo unicamente por
bondade e misericórdia, sem nenhum mérito nosso. Esses motivos são mais do que
suficientes para darmos graças a Deus todos os dias, servindo-o e obedecendo-o,
porque isso é certamente verdade.
Não há desculpas.
Nada nos falta.
Ser ingrato e
mal-educado é a pior forma de relacionamento social entre as pessoas. Não se
deve ser assim na sociedade, então, por que ser assim com Deus?
Por isso, finalizo
com a confissão de fé e louvor do salmista:
“Tu és o meu Deus,
render-te-ei graças; tu és o meu Deus, quero exaltar-te.
Rendei graças ao
Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre” (Salmo
118.28-29)
Fabio Leandro Rods
Ferreira
Advogado
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