Jesus
está caminhando com seus discípulos, e preocupado com a opinião das pessoas,Ele
pergunta “quem o povo diz que eu sou?”.
O povo tinha as respostas mais diferentes: “João
Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas”. Percebendo nas respostas
do povo que eles não conheciam quem ele realmente é, Jesus faz uma pergunta diretamente
aos seus discípulos, por que andavam constantemente junto dele, ouviam o seu
ensino, e poderiam conhecer melhor: “E
vós, quem dizeis que eu sou?” (Mateus 16.13-16).
Afinal,
quem é Jesus para o mundo, e para as pessoas em nossos dias? Quais são as
respostas mais comuns para esta pergunta nos dias de hoje? E qual a importância
desta pergunta para nós, cristãos?
Certamente
já ouvimos diversas respostas para esta pergunta de Jesus, e é comum vermos uma
grande diversidade de literaturas que apresentam como “maior psicólogo”, “maior
mestre” ou “maior líder” que já existiu. Mas algo que nos preocupa muito como
cristãos é que a cada dia se torna mais comum nos depararmos com revistas que
trazem a imagem de Jesus Cristo na capa, porém com o título relacionado ao
“Espiritismo”. Por estas e outras continuamos presenciando diferentes respostas
(e muito diferentes) para a pergunta que Jesus Cristo fez aos seus discípulos: “quem dizeis que eu sou?”.
Não
precisamos rebuscar muito para percebermos as diferentes formas de ver Jesus
Cristo em nosso mundo, e o propósito deste breve artigo não é de julgar a fé ao nosso redor, mas mostrar
que existem diferenças entre o Jesus
Cristo apresentado pela doutrina Espiritismo-Kardecista e o Jesus Cristo
apresentado pela Sagrada Escritura, confessado pelos discípulos e crido pelas
igrejas cristãs que possuem como base da sua doutrina toda a Sagrada Escritura, como a Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
A
princípio é curioso pensarmos que a pessoa de Jesus Cristo é “observada” também em outros meios
religiosos, que não são cristãos em sua essência, apesar de atualmente se chamarem de cristãos. Por mais
estranho que pareça, um dos principais meios religiosos que se utiliza amplamente
do nome de Jesus Cristo em nossos dias é o meio espírita, principalmente o
espiritismo proveniente de Allan Kardec, e muito conhecido no Brasil pela
figura de Chico Xavier. Mas apesar de muitos usarem o nome de Jesus Cristo,
identificando-se como Espiritas-Cristãos, convém perguntar: será que estes
podem ser chamados, ou considerados “cristãos”?
Antes
de mais nada é importante refletirmos a respeito do adjetivo “cristão”. Podemos considerar que o
“cristão” é aquele que se diz cristão? Essencialmente não. O “cristão” reconhece exclusivamente a autoridade da Bíblia Sagrada, como verdadeira e inspirada Palavra de Deus, a qual não pode errar, e na
qual se fundamenta toda doutrina. A Bíblia não traz somente o ensino de Jesus
Cristo para viver uma vida reta, mas também traz os ensinos dele sobre si mesmo, e principalmente, testemunha o Evangelho que é a obra que Deus
fez e faz em favor do ser humano pecador através de Cristo.
O “cristão” sabe que é pecador e dependente
do amor e da misericórdia de Deus em sua vida, pois a sua natureza pecadora “não busca a Deus e não possui justiça
própria” (Romanos 3.9-20). Esta dependência da ação de Deus em favor do ser
humano pecador, para o “cristão” é essencialmente a total dependência da obra
realizada através de Jesus Cristo na cruz. O “cristão” conhece Jesus Cristo não
como um homem que viveu, ensinou o
povo e seus discípulos, mostrou uma lei moral e morreu por ser mal
compreendido, conforme a doutrina Espírita ensina, mas aquele que é chamado
“cristão” conhece Jesus Cristo como verdadeiro Deus encarnado, “a imagem do
Deus invisível”, (Colossenses 1.15) e reconhece em sua natureza pecadora a
dependência da morte do próprio Deus “de uma vez por todas” (Hebreus 9.28) para
oferecer o perdão dos pecados. Em palavras simples, ser “cristão” é acreditar
em Jesus Cristo como Deus criador, Deus Salvador e Deus misericordioso.
Então
surge a pergunta: pode ser chamada “cristã” a
fé que recusa Jesus Cristo como Deus e considera-o nada mais que um homem
sábio? Pois é justamente este Jesus homem,
que é frequentemente apresentado nas mídias atuais, principalmente em novelas
de grande destaque, em filmes e em diversos meios de comunicação. Esta
compreensão de Jesus Cristo como um “mestre” é influenciada pelo Espiritismo.
Pois
o Espiritismo ensina que Jesus Cristo foi nada mais que um homem que ensinou a
moral, com a finalidade de se apresentar aos seus seguidores somente um“exemplo
a ser seguido”. Toda a doutrina, bem como a compreensão de Jesus no Espiritismo
não
é guiada pela Bíblia, como Palavra de Deus, mas pela revelação de supostos “espíritos” que conforme o próprio Allan Kardec, “possuíam um conhecimento sujeito ao erro,
assim como qualquer ser humano[1]”.
Convém questionar, se o conhecimento destes “espíritos” é semelhante ao conhecimento humano, por que Kardec não
fundamentou a sua doutrina naquilo que as pessoas ao seu redor poderiam revelar?
Pois mesmo assim, ele decidiu estabelecer a doutrina do Espiritismo moderno com
base em “palavras” e “ensinamentos” que segundo ele, não possuem valor maior do que qualquer
palavra humana.
Muitas
pessoas são seduzidas pelo espiritismo, por se dizer que eles ensinam os
princípios de Jesus Cristo e por ser
considerado um ensinamento “racional”,
que chama a atenção pelo ensino da “bondade
e da caridade” e afirma que o ser humano pode purificar colocando em seu
coração o propósito de praticar a caridade, conforme ensina a “máxima espírita”
que defende com convicção que “sem a
prática da caridade não há salvação”. Mas será que bondade pode ser sinônimo de verdade?
As pessoas que vivem a caridade podem
estar certas de que estão vivendo conforme
a verdade? Não, pois qualquer pessoa pode viver praticando a caridade e a
bondade afundado no engano, e acabar morrendo sem conhecer a verdade. Bondade e
caridade não são sinônimos de “verdade”, e a prática da caridade ao próximo,
por melhor boa obra que seja, não pode transformar a mentira em verdade, nem
mesmo tem o poder de oferecer qualquer tipo de salvação ao ser humano pecador.
E
ainda, indo mais adiante em nossa reflexão; se o ser humano possui capacidades
próprias e forças próprias para vencer a sua natureza pecadora, com méritos e
capacidade de viver na prática da caridade perfeita, sem buscar interesses
próprios em total santidade, não estamos descartando a obra de Jesus Cristo em
nosso favor e reduzindo o valor de sua obra, a algo “não tão importante assim”,
ou até “desnecessária”? Pois em todos os tempos sempre existiram ensinamentos
que prezam capacidades e méritos próprios do ser humano, ignorando a cruz de Cristo e relegando a sua obra a algo
simplesmente dispensável.
Pode
ser cristã, uma doutrina que tira Jesus Cristo do centro, para colocar em seu
lugar a ênfase nas capacidades e méritos humanos? Não, pois o cristão que vive
conforme a palavra de Deus reconhece a sua dependência da ação de Deus por meio
de Jesus Cristo. “Somos salvos por causa
Cristo, por meio da fé não por obras
humanas, mas somente por meio de Cristo”[2].
Em
nossos dias, diante das diferentes visões a respeito de Jesus Cristo,
poderíamos imaginar como seria respondida a pergunta “Quem o povo diz que eu sou?”. Certamente, as respostas seriam as
mais diversas, e mais variadas do que nos tempos de Jesus, e justamente neste
contexto é que se encontra a grande importância de perguntarmos “quem é o Jesus que nós confessamos?”.
Alguns
ouvindo “Jesus ensinou.. Jesus falou”
podem até dizer: “olhem! Eles acreditam
em Jesus Cristo! Eles são cristãos”, mas o irônico que o simples nome “Jesus” jogado ao vento pode não
significar nada. É nada mais que um nome, que para alguns pode lembrar o
ex-namorado da Madonna, uma personalidade, uma pessoa conhecida, “um mestre” ou
um ser humano qualquer. É importante perguntarmos “de qual Jesus você está falando?”.
Podemos
dizer que é mais ou menos assim que um Espírita responderia: “Jesus foi um grande homem”, “um exemplo que Deus mandou para ser
seguido”, “um mestre” nada mais que uma figura histórica, um homem qualquer. As
nossas confissões Luteranas contidas no Livro de Concórdia afirmam que “até mesmo os ímpios e demônios creem que
Jesus Cristo foi uma figura histórica qualquer, e que sua morte na cruz não se
passa de uma noticia na história” mas não reconhecem como seu Salvador, que
morreu na cruz para lhe oferecer o perdão dos pecados, uma nova perspectiva de
vida na certeza que Deus nos ama, e ao fim de nossa existência no mundo a
garantia da Vida Eterna oferecida por Jesus Cristo (Apologia da confissão, L.C p.
166, paragrafo 337).
Mas
onde podemos chegar com esta compreensão de Jesus somente como um homem ou um exemplo qualquer a ser seguido? Podemos afirmar sem
medo de errar, que com este conhecimento limitado de Jesus não podemos chegar a
lugar nenhum, a não ser ao desespero! Sim, o desespero de lutar para ser igual a Jesus Cristo, o próprio
Deus, tendo em vista que jamais seriamos iguais a Ele, o desespero na luta
constante em fazer a caridade, em tentar se justificar diante de Deus com as
suas próprias obras, desprezando o que Cristo fez por toda a humanidade e ainda
assim, fazer tudo isso, com a finalidade de “reencarnar”, acreditando que podem
voltar novamente ao mundo cheio de sofrimentos, mortes, luto, dor e angústias.
Será que pode haver consolo em tal mensagem? É evidente que não, além de
ignorar a clara mensagem da palavra de Deus, que “ao homem está ordenado morrer
uma só vez, vindo depois disto o juízo” (Hebreus 9.27).
Assim,
acima de tudo, que nesta páscoa possamos afirmar de todo coração que “Deus amou
o mundo!”, mas alguém pode perguntar: “mas como
Ele ama o mundo?” resposta é oferecida pelo próprio Jesus, pois “Deus amou o
mundo desta (de tal) maneira: dando o seu único filho para que todo aquele que
nele crê não morra, mas tenha a Vida Eterna”. Jesus Cristo é a verdadeira e
suprema expressão do amor de Deus por todos nós (Joao 14.6). Em Jesus Cristo
temos a verdadeira Vida, na certeza que Deus não está alheio à nossa condição
pecadora, mas Ele vem ao encontro do ser humano pecador na pessoa de Jesus
Cristo, para viver e sofrer o nosso pecado, ressuscitando finalmente e
oferecendo a garantia da nossa ressurreição e da Vida Eterna. Em Jesus podemos
viver na confiança da verdadeira e definitiva consolação oferecida por Deus: o perdão dos pecados e a Vida Eterna, a qual
não conquistamos por nosso mérito, mas recebemos por meio de Cristo.
Jesus
tem uma pergunta aos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Antes de perguntarmos o tipo de “mestre”
que Jesus foi, ou se Ele usou ou não da psicologia,
e antes de observarmos se Ele foi eficiente em sua liderança, não nos ocupemos em primeiro lugar “quem Jesus Cristo foi em si”,
mas nos perguntemos “quem é Jesus para mim?” Certamente, pela fé que
o próprio Deus opera em nosso coração, podemos fazer coro às palavras de Pedro:
“Tu és o Cristo (o Messias) o filho do
Deus vivo”!. E assim, como cristãos, confessamos a fé naquele que é Deus vivo,
Deus criador, Deus mantenedor do mundo e de toda sua criação, que em seu amor
por nós é hoje e eternamente nosso Deus Salvador. Pois assim como Ele vive, nós
também viveremos! Amém.
“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com
ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos,
já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele.
Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu
para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.
Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas
vivos para Deus, em Cristo Jesus.”
(Romanos 6.8-11 - Almeida RA)
Rev. Douglas Wendler