sábado, 13 de junho de 2015

Oito minutos – sem cessar, sem vacilar

Você está preparado para morrer? O que quero tratar hoje, em especial com os irmãos leigos, é sobre o preparo em relação à morte. Você está preparado para o morte?
            Na tragédia do voo Germanwings, a caixa preta registrou que, às 9:30, Andreas alterou o selecionador de altitude de 30 mil pés para 100 pés. Os registros também mostram que às 9:35 o avião estava na velocidade de 841 km/h, vindo a chocar-se contra as rochas da montanha às 9:41. 


            A descida durou oito minutos. Foram oito longos minutos de desespero, pois os demais passageiros e tripulantes do voo viam o piloto tentar desesperadamente arrombar a porta e, pelas janelas, podiam ver a aproximação dos gigantescos alpes.
            Oito minutos. O que você faria se soubesse que iria morrer em apenas oito minutos? Nossa resposta cristã e imediata seria: vou orar! 


            Com certeza, o irmão ou irmã que, assim como eu, viaja constantemente de avião, deve agora estar emocionado lendo este texto, pensando no que faria.
            Oito minutos é muito tempo. Nossas orações não duram mais do que dois minutos, e às vezes as achamos longas demais. 


            Quando me fiz esta pergunta: o que eu faria? Imediatamente me veio a tradicional resposta de orar, de pedir perdão pelos meus pecados e de que Jesus me receba.
            Não é uma saída um tanto egoísta, já que peço coisas só para mim? Em Cristo, nós já estamos salvos. Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Confio em meu Deus e no meu Salvador. Portanto, se nós já fomos escolhidos por Deus, e Jesus deixa isso bem claro nos Evangelhos, então alguma razão deve existir para isso. Essa razão vai além de nos reconhecermos como criaturas; vai além de rendermos culto ao criador; isso era antigamente, na velha aliança. Jesus nos trouxe uma nova aliança, em que o culto agora é transmitir a Boa Nova, anunciar a salvação e difundir o Evangelho. 


            Nossos pastores, se entivessem oito minutos finais, saberiam o que fazer. Mas e nós, leigos? Limitaríamo-nos a pedir algo que já temos e só isso?
            Num momento desses, se der para pensar e conseguirmos nos lembrar, é bom recordar o Ofício das Chaves e sua aplicação. 


            Antes da tragédia, com certeza eu não faria nada, iria me limitar à minha oração e ponto final. Mas hoje, após refletir e estudar sobre o tema, já sei que faria diferente.
            Pelo Ofício das Chaves aprendemos que podemos libertar as pessoas do cativeiro do pecado, da angústia, dos ressentimentos, da escravidão. Lutero ensina que o Ofício das Chaves é para toda a cristandade, e não só para os ministros. 


            Portanto, se eu tivesse oito minutos finais de vida em um avião, perguntaria a cada pessoa: Você quer ir para o céu? Você acredita que Jesus é o Salvador, o filho de Deus? Você se arrepende sinceramente das coisas más que fez? Então eu te perdôo em nome de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
            Essas perguntas simples são para pessoas desesperadas como aquelas bóias salva-vidas lançadas aos náufragos no mar. E é assim que as pessoas não crentes são. Náufragos se afogando em seus pecados e que precisam simplesmente de uma boia. 


            Nestes oito minutos, creio que teria a chance de lançar, no mínimo, algumas (ou quem sabe muitas) boias salva-vidas. Mas se pelo menos um náufrago fosse salvo, tudo já teria valido a pena.
            Nós, leigos, estamos preparados? Quem nos deve preparar? Sei que o tema pode gerar controvérsia, os teólogos podem dizer que há algo errado nesse procedimento. Não lhes tiro a razão, mas faço um desafio: Os leigos estão preparados? Quem deve prepará-los? 


            Longe das controvérsias, creio que teria feito algo, e somente Deus conhece os corações dos seres humanos. Somente Deus conhece sua sinceridade, e somente ele atende aos pedidos de socorro. Basta recordarmos do ladrão ao lado de Jesus, na cruz, ele nem batizado era e foi salvo. E isso aconteceu no último instante. Para tanto, cito Lutero: “Confie nas palavras de Cristo e saiba que Deus não tem nenhuma outra forma de perdoar pecados a não ser através da palavra falada, como ele ordenou que façamos.”


            Sendo assim, dar o perdão no momento final de vida, através da palavra falada, e num momento de extremo desespero, é mostrar ao náufrago que existe um mundo novo, uma nova vida; é dar-lhe o conforto da graça divina. É dar-lhes, nesses momentos finais, tudo aquilo que ele precisa ouvir: em nome, por amor e ordem de Cristo, você está perdoado, fique em paz!
            Proibir isso, e dizer que o leigo não o pode fazer, é trancar a Graça numa redoma, para que a vejam, mas não a toquem. Desejem, mas não a possuam. Alguns dirão: No momento de desespero a pessoa fala qualquer coisa. Precisamos ter seriedade. Responderei: Não cabe a mim julgar. Quem decide quem entra e quem não entra no céu é Jesus. Não sou eu.
            Devemos estar cingidos, prontos para o trabalho, até mesmo em oito minutos finais. Sem cessar. Sem vacilar. 


            Não é à toa que Jesus nos fez sal e luz do mundo. Ele nos escolheu para fazer a diferença. Já fomos salvos para que nós, crentes, não precisemos nos preocupar com isso, mas com a salvação dos outros.
            Sem cessar. Nosso trabalho tem que ser constante, a todo o momento e em qualquer situação. Até mesmo nas catástrofes. É claro que você não vai ficar parado durante um terremoto segurando a Bíblia e recitando salmos. Como qualquer outra pessoa, você deve correr, procurar ajuda, abrigo. 


            Minha sugestão é: se você está tranquilo, tranquilize os outros. Se você está salvo, salve outros, apresentando-lhes o único Salvador que quer e pode salvar a todos – Jesus Cristo!
            Sem vacilar. Não se questione se você pode ou não, se faz ou não. Faça. Deus capacita. 


            E se você quer estar preparado para isso, procure seu pastor, converse com ele a respeito e peça para ele orientá-lo a como estar preparado.
            Não tenha medo e pense na diferença que você pode fazer lançando boias salva-vidas no oceano de pecado. E não só em momentos trágicos, mas no dia a dia, pois ao nosso redor o mundo está ruindo em desgraça, e as pessoas estão se afogando no nosso trabalho, na nossa casa, na nossa rua. 


            Faça. Sem cessar. Sem vacilar.

Fábio Leandro Rods Ferreira